O que os outros vão pensar?

6835060992_de52d24f52_z

O que os outros vão pensar?

Não muito raro, ouço essa frase.

Se pensar bem, acredito que ouço essa frase todos os dias.

Seja no consultório ou em conversas casuais com amigos, esse velho questionamento “o que os outros vão pensar?” invade as conversas na mesma proporção que invade nossas mentes.

Infelizmente, faço parte da estatística e, não diferente da maioria, por vezes me peguei deixando de fazer ou dizer algo após levantar a grande questão “o que os outros vão pensar?”.

Acontece que essa grande incógnita vem me incomodando há um tempo e agora está quase insuportável não falar sobre ela. Quero muito que aqueles que lerem esse texto sintam-se incomodados, assim como eu.

Primeiramente quero dizer que quando nos fazemos esse questionamento, não estamos apenas preocupados com o que os outros vão pensar, mas estamos também duvidando daquilo que somos ou queremos. Estamos, de certo modo, cogitando a possibilidade de mudarmos nossa essência, nossos desejos, nosso eu verdadeiro, para “agradar” os outros. Sim! Nos questionarmos sobre o pensamento dos outros sobre nós ou nosso comportamento é, simplesmente, não valorizar nosso amor próprio e nossa verdadeira essência, dando mais valor ao que os outros irão pensar de nós, do que nossos próprios sentimentos.

Por que fazemos isso? Porque somos seres “sociais” e, como parte da socialização, precisamos ser aceito pelo outro, pelo grupo, pela sociedade. Por isso, tememos o julgamento, temos medo de expor nossa reputação a uma imagem que os outros julgam ser “ruim”. Nada mais ruim do que sermos excluídos ou termos de lidar com aquele olhar perverso de desaprovação.

Mas na prática, por que fazemos isso? Verdadeiramente não sei, mas acredito fortemente que de uma forma bem velada, foi assim que fomos ensinados a ser. Lembra de quando criança (ou talvez até hoje isso aconteça) você estava aos gritos brigando com seu irmão e ouvia sua mãe dizer “parem com isso, o que os vizinhos vão pensar?”. Bom, sei lá como era na casa de vocês, mas das muitas histórias que ouço, das tantas, são bem parecidas com as lá de casa.

“Não fica namorando no portão… o que os vizinhos vão pensar?”

“Não grita assim… os vizinhos podem ouvir, o que os outros vão pensar?”

“Não faz isso, não faz aquilo, não… não… não… o que os outros vão pensar?”

E assim, silenciosamente, fomos aprendendo a nos preocupar com o que os outros vão pensar. Fomos nos moldando aos padrões que “achamos” ser o ideal ou mais adequado para a situação, que começa com alguns momentos e, quando de repente, nossa vida já está toda moldada para se preocupar com o que os outros vão pensar.

Você pode até me perguntar se isso, de certo modo, não é bom. Afinal, como seria o mundo se todos fizessem o que bem entendessem ou lhe “dessem na telha”, sem se preocupar com o que os outros vão pensar?

Na boa, de verdade mesmo, se o que o que você vai dizer ou fazer não fere os direitos do próximo e só diz respeito a sua vida ou como você se sente, pouco importa o que os outros vão pensar. Afinal, as consequências de suas escolhas será você mesmo que irá arcar.

Então eu te pergunto: Qual preço está disposto a pagar?

O preço de tentar, desastrosamente, agradar a todos ou seguir seu caminho e fazer suas escolhas baseadas em você próprio?

Porque fazer escolhas baseadas no que você acredita que irá agradar o outro, posso lhe garantir de antemão que, está fadado ao fracasso. Não há nada mais falível que tentar agradar o outro.

Antes disso, saiba o que te faz bem, o que você quer, os reais motivos das suas escolhas e assim, independente da reação do outro, estarás bem consigo próprio. Não fez suas escolhas baseadas em expectativas irreais sobre como as pessoas te veriam.

É tão simples pensar que se estamos bem com nossas escolhas, não importa como os outros nos veem, sempre vamos ficar bem. Afinal, as pessoas que nos amam de verdade e, de fato, primam pelo nosso bem e felicidade, concordando ou não com nossas escolhas, vão continuar nos amando e nos dando força.

“Não fica namorando no portão… o que os vizinhos vão pensar?” Vão pensar que você é um ser humano como qualquer outro e namorar é algo natural. Vá o vizinho namorar um pouco que terá menos tempo para cuidar da vida do outro.

“Não grita assim… os vizinhos podem ouvir, o que os outros vão pensar?” Vão pensar que você é um ser humano “normal” que grita, ri e chora. Que tem sentimentos e expressam-nos, seja de forma adequada ou não ao padrão que eles acreditam.

Vou te lançar o desafio de fazer uma lista com coisas que deixou de fazer ou dizer com medo do que os outros iriam pensar. Pode fazer essa lista mentalmente mesmo. E aí? Tem muitos itens? Bom, se a lista de coisas que tem deixado de fazer com medo do julgamento alheio está grande, convido você a refletir no que realmente está errado. Será que não tem dado demasiada importância ao outro e está se deixando de lado? Cuidado… você pode estar matando seu amor próprio.

Aceite quem você é. Assuma uma postura verdadeira com você. Se permita ser você mesmo, não tenha medo nem vergonha. Se você precisa ser outra pessoa que não você mesmo para conviver com aqueles que estão a sua volta, talvez esteja na hora de mudar-se e encontrar-se.

Ah! Aproveita para fazer o mesmo com aqueles que você ama. Aceite as pessoas como elas são. Aceite que as pessoas tem passado, que elas tem sentimentos diferentes dos seus. Aceite que ela é outro ser e se você tiver amor próprio será capaz de amar esse outro ser, mesmo sendo ele tão diferente do que você gostaria que ele fosse.

“Errado é você deixar de fazer alguma coisa com medo do que os outros vão pensar.”

Quando é egoísmo…

amor_proprio

Após assistir ao filme “Como eu era antes de você” me deparei com enumeras críticas ao personagem principal “Will” interpretado por Sam Claflin de que ele foi egoísta. Espera aí, vamos à história. Will é um cara lindo, rico, com uma vida cheia de aventuras até sofrer um acidente que o deixa tetraplégico. A maioria do público faz criticas ao Will dizendo que ele é sarcástico e não se importa com o amor e sofrimento das outras pessoas pelo fato de ele querer morrer. Mas ao assistir o filme o que pude ver foi uma pessoa presa a uma vida que não é a sua, uma realidade que ele não quer viver e pessoas obrigando-o a ser feliz a qualquer custo. Quem é o egoísta da história mesmo?

Como psicóloga posso dizer que o Will não conseguiu elaborar o luto da sua vida anterior e, desta forma, não deu conta de encarar sua nova vida com uma realidade bem diferente da que tinha antes de ser acometido pelo acidente. Talvez esse seja o ideal de todos nós, elaborar nossos lutos e refazer nossas vidas. Mas será possível isso sempre? E se não for possível, não será mais egoísmo nosso querer do outro aquilo que ele não tem condições de oferecer.

Por se tratar de um filme de eutanásia, me fez lembrar muito de outro filme, “Mar adentro” que trata do mesmo tema e, não por coincidência, o personagem principal também tetraplégico é duramente criticado por seu desejo de morrer. O ponto crucial de ambas as histórias é quando o amor das pessoas próximas ficam de fato maior que seu egoísmo e, então, elas passam a aceitar suas escolhas ainda que não compreendam seus motivos (por falta de empatia talvez) ou acreditem que havia outras possibilidades. Porém, não questionam mais, apenas aceitam e o ajudam nessa travessia entre quase vida e morte – entre prisão e liberdade.

Deixando de lado a discussão sobre o direito ou não de tirar a própria vida, quero enfatizar sobre o egoísmo das pessoas. Há uma confusão muito grande sobre o que é ser egoísta e, cada vez mais, o termo vem sendo utilizado de maneira inadequada para adjetivar pessoas que estão na verdade pensando no bem estar delas em detrimento ao sofrimento das outras pessoas. Mas isso não é egoísmo? Se for olhar pelo significado do dicionário pode-se dizer que sim. Mas, se pensar em nosso bem estar sem pensar no do outro é egoísmo, então todos somos egoístas o tempo todo.

Vejamos: Louisa (personagem de Como eu era antes de você) pensando no amor que sentia por Will, queria que ele vivesse de qualquer forma, mesmo sofrendo, com dor e infeliz por suas lembranças do homem que um dia tinha sido. Will, por sua vez, queria morrer, já tinha morrido muito antes, somente estava preso a um corpo. Sua obsessão em morrer estava acima do amor das outras pessoas e ele sabiam que todos sofriam por sua escolha. Mas lhes pergunto novamente: Quem é o egoísta da história?

Obrigar o outro a viver uma vida infeliz para que nós sejamos felizes é egoísmo. Permitir que o outro seja feliz independente se estamos incluídos no seu plano de felicidade é amor, mas requer maturidade demais entender isso. Obrigar o outro a fazer do nosso jeito é egoísmo sim, mas entender que o outro é um ser a parte, que possui sentimentos, tem direito de escolhas, não faz diminuir nosso sofrimento, porém nos torna mais humanos e nos aproxima do amor verdadeiro e genuíno.

Não podemos confundir egoísmo com amor próprio. Amor próprio é cuidar da nossa essência, valorizar o que nos faz bem e abdicar do que nos machuca/faz mal. Isso é importante e muito saudável. Ao contrário disto, o egoísmo é só pensar em si mesmo, acreditar que todos devem fazer do teu jeito e nunca pensar no outro. Difícil equilibrar tudo isso, não? Como saber quando estamos sendo egoístas ou tendo amor próprio? Simples! Quando nossas escolhas se referirem as nossas vidas e as consequências, apesar de afetar outras pessoas, não é com o intuito de deixá-las mal, mas sim nos livrarmos de algo que nos faz mal.

Enfim, egoísta é o pássaro que voa ou o homem que aprisiona?

 

“Pareço egoísta àqueles que, por um egoísmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo.”

 

Somos “Seres em falta”…

liberdade_5(1)

Como dizia Freud “O homem é um ser de falta” e essa é uma grande verdade que não pode ser ignorada. O ser humano está sempre em busca de alguma coisa e, de certo, buscando algo que ainda não possui. É um ciclo vicioso de buscas e conquistas que parece não ter fim. Tenho um amigo que certa vez me disse que “o ser humano sempre aspira àquilo que ele não tem”.

Nunca estamos plenamente satisfeitos com tudo. Se estamos com um trabalho Ok, queremos uma casa melhor. Aí temos a casa dos sonhos, mas não temos os filhos que tanto sonhamos. Então vem os filhos, mas queremos mudar de trabalho. Sim, o assunto voltou a ser o trabalho. E assim, a busca desenfreada por aquilo que nos trará a felicidade plena nunca para e a bendita felicidade da conquista daquilo que tanto almejamos não demora mais que alguns minutos, horas ou dias até sermos arrebatados de novo pela grande necessidade de ter uma nova busca a fazer.

Se você imagina que isso é muito ruim, peço para ter um novo olhar sobre o assunto. Imagina alguém que não almeja nada, não sonha nada, não busca nada, não tem metas, nem objetivos? Não conseguiu pensar em ninguém, não é mesmo. Se você pensou, devo admitir que eu não imagino essa pessoa fora da cama, viva e sendo feliz. Nossa, que exagero! Então você quer dizer que uma pessoa que não sente falta de nada, não é feliz? Não gente! O que eu quero dizer é que ao almejarmos algo, nos colocamos (ou deveríamos pelo menos, esse é o plano) em ação para que isso aconteça. Fazemos planos, determinamos metas, colocamos um foco naquilo que queremos e partimos em busca da sua realização.

O desejar algo nos coloca em movimento. Nos tira da inércia. Se não fosse assim, não teria tanta gente ganhando dinheiro com palestras, treinamentos e livros de “Motivação”.  E todo mundo compra isso porque quer, de alguma forma, conseguir aquele up no astral que, acredita ele, será o fator milagroso que irá mudar sua vida. Ledo engano, pois se esquece que motivação é interna, variável e continua. Não pode ser colocada em nós! Vem de nós! Vem de dentro e se não for assim, não tem motivo para felicitar quando da sua realização. E é aí que mora o grande perigo. O problema de tudo isso reside no único fato de que muitas vezes não sabemos o que queremos e por que queremos. Queremos apenas para satisfazer nosso ego competitivo nesse mundo capitalista onde o “parecer ser” se sobressai à essência humana de cada um.  Queremos o que achamos que será bom para termos mais prestígio no trabalho, mais inveja dos amigos, mais felicidade em família, mais, mais, mais e assim o acúmulo de conquistas sem sentido não para até que se entenda a real necessidade dessa compulsão a repetição por buscar/desejar sempre aquilo que não temos.

Precisamos aceitar que somos seres inacabados em constante evolução. Que nossas necessidades, na maioria das vezes, foram desenvolvidas por nós como forma de proteção da nossa psique que, quer, de alguma forma, preencher nossos pequenos vazios existenciais. Sabendo disso, paramos de buscar fora de nós às respostas que sempre estiveram aqui dentro, silenciadas pelas vozes do mundo que vendem falsas ideias de para ser feliz você precisa pertencer ao mundo, quando na verdade você só precisa pertencer-se a si mesmo. O que te faz feliz de verdade? O que realmente te motiva? Sua essência se agrada da sua aparência? Você é ou você tem? A partir dessa compreensão, tudo fica mais fácil e toda busca passa a ter real sentido.

“Se formos livres por dentro, nada nos aprisionará por fora.”

O Começo da Vida

ocomecodavidacapa-406x250_c

“Um dos maiores avanços da neurociência é ter descoberto que os bebês são muito mais do que uma carga genética. O desenvolvimento de todos os seres humanos encontra-se na combinação da genética com a qualidade das relações que desenvolvemos e do ambiente em que estamos inseridos. “O Começo da Vida” convida todo mundo a refletir como parte da sociedade: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade?”

Essa é a sinopse do filme/documentário “O Começo da Vida” que conta sobre os primeiros 1000 dias da vida de uma criança. Mas o filme é muito mais do que isso, ele nos permite entrar em contato com nosso próprio eu criança e o quanto nós, adultos, fazemos descobertas nos primeiros anos de vida da criança, contrariando a ciência e filosofia que diz que somos todos “tábulas rasas” ao nascer.

Sim! É claro que a criança, ao nascer, não possuí muitas experiências, por isso, justificava-se que a mente é uma página em branco (tábula rasa) que a experiência vai preenchendo. De certo modo, pode até funcionar assim para muitas coisas. Entretanto, precisamos considerar que é justamente o fato de a criança não ter experiências anteriores que as tornam tão originais e criativas. Por isso mesmo é que se pararmos para olhar uma criança brincando, se desenvolvendo, podemos aprender muito com elas. Talvez elas tenham mais a nos ensinar do que a aprender.

Acontece que aos poucos, nossos excessos de regras e normas vão tirando essa habilidade de experimentar o mundo sem medo. Não digo que as crianças não devam ter regras e normas, mas o problema reside no fato de não usarmos adequadamente. Quero mesclar conteúdos de outro documentário “Quando sinto que já sei” que fala um pouco da educação das nossas crianças. Neste documentário temos a expressão “limites que não limitam” a educadora diz que, ao mesmo tempo em que a criança ganha sua força de expressão ela aprende a conviver em harmonia e respeito com todo mundo e que um olhar ou um julgamento de um adulto, pode apagar a expressão de 40 crianças em 1 segundo. “Nossas crianças sabem pensar, elas sabem pensar por si, não precisa a forma que alguém ensinou.”

Quando foi que ficamos tão chatos e aprendemos a classificar toda experiência como certa ou errada a partir do que acreditamos ser o certo ou errado para nós? Quando foi que começamos a aceitar as regras do mundo como finais e absolutas?             Quando foi que aprender se tornou algo chato e maçante? Quando foi que laranja passou a não combinar com rosa na composição da roupa e a árvore obrigatoriamente tem que ser pintada de verde?

Certa vez estava brincando de desenho e pintura com minha afilhada que, na época, deveria ter seus 4 anos e, por sorte, sua autoestima de pintora era muito boa, tão boa a ponto de me fazer enxergar a crueldade que eu estava fazendo. Bom, o certo é que eu estava fazendo desenho de paisagem, com rochas, rio, árvores, nuvens, sol, quando ela me pediu para que fizesse um arco-íris para ela pintar. Quando ela iniciou a pintura me assustei ao vê-la pegar o marrom para pintar o arco-íris e intervi dizendo que aquela cor não compunha as cores do arco-íris. Mas ela, mais que rapidamente me respondeu “eu sei, mas esse arco-íris é meu”. Sorri com sua resposta e me envergonhei de ter dito aquilo para ela. Quando ela terminou sua pintura, valorizei sua capacidade de preencher os espaços e respeitar os limites/margens, mas confesso que não conseguia achar o desenho bonito porque esteticamente ele não era o que eu esperava. Quando vi o olhar dela de orgulhosa pelo que tinha feito, consegui me lembrar de que aquele desenho ainda era dela e estava bonito para ela e ponto.

O que acontece é que nós, adultos, depois de muito aprender, acreditamos que já sabemos o que é certo e errado para tudo, inclusive sobre os outros. Esquecemos que a criança é outro ser e pode fazer as descobertas a partir dela e não como uma continuação nossa. Nos esquecemos que mais do que lições sobre a vida e como ela funciona, a criança precisa de amor, cuidados essenciais, segurança e acima de tudo, respeito. Freud já dizia, “como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada”. Uma criança que se sente amada não tem medo do mundo. Não tem medo de ser ela mesma. Não tem medo de expressar seus sentimentos. Uma criança que se sente amada torna-se um adulto capaz de amar.

Mas você sabe o que é dar amor a uma criança? Dar amor é cuidar do outro fazendo o seu melhor, mas respeitando a barreira do eu. Lembrando-se que há um limite entre o que você quer e o que é importante para criança. Prover segurança, mas incentivar a sair da zona de conforto. Impor limites, mas não limitar. E isso não serve somente para os pais, mas para todo cuidador, seja em casa ou na escola.

Enfim, será que estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade? Gostaria de finalizar com uma frase do filme que nos chama muito a atenção: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” – Provérbio africano.

A incrível arte de (Se) Perdoar…

perdao-confianca-desconfianca-750x440

Nas redes sociais, uma frase do Padre Fábio de Melo tem chamado a atenção  pelo número de pessoas compartilhando, ele diz que “na vida, a gente só sabe que ama alguém, a gente só tem o direito de dizer a alguém que a amamos depois de ter dito infinitas vezes a esse mesmo alguém a frase: eu perdoo você”. Vamos falar aqui do perdão, um tema que antes era do campo da religião, mas que vem ganhando espaço no campo da filosofia e da psicologia, apesar de ainda haverem poucos estudos publicados sobre o tema.

Para tanto, viemos falar aqui do perdão com efeito terapêutico. Sim! O PERDÃO é, antes de mais nada, terapêutico. Mas se o perdão tem efeito terapêutico, ou seja, de cura, por que, por vezes, é tão difícil perdoar? Porque para muito de nós a ideia de perdão está relacionada à condescendência a um ato de injustiça, o que está longe de ser uma grande verdade. Perdoar não significa concordar, mas sim compreender que guardar rancor sobre o ocorrido não resolverá o problema e ao perdoar você se livrará dos sentimentos de raiva e mágoa sobre a situação vivida. Para Jampolsky, perdoar significa deixar ir o passado.

Sem sombra de dúvidas, é terapêutico para ambas as partes – o perdoador e o perdoado – mas os efeitos de cura são ainda maiores para quem é capaz de perdoar, principalmente de AUTOPERDOAR. Entretanto, o “se perdoar” nunca foi tarefa fácil. Se perdoar é ainda mais difícil que perdoar ao outro. Se eu te pedisse para fechar os olhos agora e imaginar três listas mentais: de quantas vezes você pediu perdão a alguém¹, de quantas vezes você perdoou alguém² e de quantas vezes você se perdoou³ – certamente as duas primeiras listas teriam mais situações que a última e, talvez, ainda viria a sua mente, inúmeras situações das quais você ainda não conseguiu se perdoar.

Podemos supor ainda que, nestas situações as quais você não conseguiu se perdoar, possivelmente, houveram perdas e o sentimento de culpa. Se houve perda a sensação é de que o fato é irreparável, sendo assim, não cabe o autoperdão. Se essa perda é de uma pessoa, aí as coisas complicam mais. Afinal, se você perdeu a outra pessoa, automaticamente você acredita que ela não te perdoou. O que não é sempre verdade. Pois perdoar não significa esquecer, tão pouco, aceitar que tudo volte a ser como antes. Para Derrida, perdoar não é homólogo a se reconciliar nem pode haver nenhuma simetria no processo de perdão e; para Arendt, perdoar é se desobrigar de permanecer numa determinada posição sem que isso signifique esquecimento.

O problema da culpa é que ela não te livra daquele famoso “e se” que ronda sua cabeça e não te deixa dormir, é o mesmo que não te deixa esquecer e, também, o mesmo que não te deixa se perdoar. Junto a isso, ainda existe o desejo de posse sobre o outro, por isso, é inconcebível pensar em perdê-lo. Sendo assim, você sabe que errou e de alguma forma você acredita que precisa dar um jeito de consertar.

Sabe por que muitas pessoas fazem isso? Porque a culpa que deveria existir como um processo saudável de reparação e crescimento, torna-se patológico na vida da maioria das pessoas devido as suas culpas e vivências infantis mal elaboradas, as quais as levaram a desenvolverem superegos extremamente rígidos. Busca-se a aprovação do outro como se buscava nos pais lá da infância e, desta forma, igualmente espera o perdão “incondicional” do outro, como assim esperava-se por parte dos pais infantis. Incondicional entre aspas, pois, de certo que haviam condições para o perdão na infância, entretanto, nunca houve a perda do perdoador, o que denota o perdão ligado à permanência do perdoador na vida do perdoado.

De forma inconsciente, é bem provável que, como forma de reparação, exista uma compulsão a repetição do erro, para que assim, numa próxima oportunidade, possa-se consertar o que não se conseguiu no passado, numa tentativa frustrada de se livrar da culpa. Sendo assim o não perdoar leva-nos ao adoecimento psicológico e, por vezes, físico. Afinal, somos seres psicossomáticos e precisamos de alguma forma extravasar nossas angustias, seja por meio das palavras ou das somatizações.

Desta forma, a capacidade de perdoar torna-se um meio de cura. Apesar disso, perdoar é um processo que requer muito de nós, pois é necessário mexer em feridas profundas, enfrentar muito de nós mesmos, desconstruir fantasias de super poderes e desfazer-se de culpas que não nos cabem mais. O perdão envolve-nos na esfera do nosso mundo interno e normalmente é um processo gradual, lento, doloroso e angustiante. Leva-nos a sentimentos de raiva, culpa, medo e frustração, mas também de reparação, reconstrução e fé.

Experiências que nos transformam

mudanca-pessoal

Quando eu era pequena, por muitas vezes via minha mãe fazer cortes nos troncos das árvores frutíferas e não entendia bem aquele ato. Questionada sobre o porque fazia aquilo, minha mãe sempre dizia que era preciso machucar a árvore para que ela produzisse mais frutos e frutos melhores, mais saborosos.

Não sei de onde vinha essa sabedoria/conhecimento da minha mãe, mas o que de fato acontecia, é que as frutas realmente vinham muito saborosas na próxima época de produção.

Até hoje me pego pensando nisso e avaliando o quanto da natureza imitamos. A verdade por trás desse acontecimento nunca me foi explicado, mas o que percebo é que muitas pessoas, que sofreram muito, que passaram por grandes tormentas e provações, acabam por se tornarem melhores, mais fortes e mais inteiras após cada processo doloroso sofrido.

Não precisamos entender muito de biologia, ciência, medicina, para compreendermos a “magia” que acontece no processo da vida.

Também não é novidade que o impulso de vida é maior que tudo e onde a natureza quer brotar ela invade mesmo. Muitas plantas, por exemplo, buscam a luz solar e mudam seu crescimento de acordo com suas necessidades de sobrevivência.  Nascem nos locais mais improváveis, cumprindo seu papel de florescer, bem como, nos encantar com a beleza a vida onde nada poderia haver ali.

Nós humanos, enquanto seres vivos, também imitamos a natureza na busca pela manutenção da vida.

A homeostase, por exemplo, tem um efeito regulador no nosso organismo, buscando mantê-lo em níveis estáveis para condições de sobrevivência.  Sempre que nosso organismo sofre uma ameaça de qualquer espécie, nosso próprio organismo busca uma forma de fazê-lo voltar ao seu equilíbrio e, desta forma, todo nosso corpo trabalha no sentido de trazê-lo a “normalidade”.

Do ponto de vista psicológico, neste caso, particular aos seres humanos, temos a resiliência definida como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, traumas e estresse sem entrar em surto psicológico.

O termo resiliência foi retirado da física, a qual se diz de uma propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Muito bem adaptado à psicologia, o adjetivo é utilizado para pessoas podem até sofrer as pressões, desregular seu organismo momentaneamente, mas que resistirão ao processo de adoecimento. Contrariando os muitos discursos de que pessoas resilientes são menos propensas a sofrerem transtornos psicológicos, quando na verdade, os resilientes não chegam a adoecer. Podem sofrer os impactos dos problemas, podem deprimir momentaneamente, mas sua mente não adoecerá.

Apesar de tudo isso, voltando ao início, sobre sofrimento e transformação, é impossível alguém passar por tantas provações, mudanças, pressões e voltar a ser quem ou o que eram antes de cada evento em si. Após o estresse, certamente a homeostase dará conta de fazer o organismo voltar ao seu estado normal. Depois de sofrimentos, de certo que a capacidade de resiliência fará com que a pessoa retome as rédeas das suas emoções. Entretanto, todas as experiências que vivemos marcam em nós. Como dizia Freud “só a experiência própria é capaz de tornar sábio o ser humano”, desta forma, é impossível não haver uma autotransformação após eventos marcantes na vida.

É como se a experiência em si colocasse as coisas nos eixos. Antes de tudo acontecer é que estava bagunçado, errado, a visão estava torta, o foco estava descentralizado. E, tão somente, a partir do evento em si as pessoas começam a perceber o verdadeiro sentido de suas vidas. O melhor delas começa a emergir após descobrirem o que de fato importa na vida – que é viver em sua plenitude.

Não importa qual seja a experiência vivida; nascimento, morte, separação, doenças, traumas, feridas emocionais, decepções – de alguma forma, após sobreviver a essa experiência, você já não será mais a mesma. Mas espera-se, que assim como nas árvores frutíferas, você possa se transformar positivamente, produzindo mais frutos e mais saborosos, porque como já dizia Sartre “não importa o que fizeram com você, o que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.

E, por fim, não nos esqueçamos de uma grande verdade: “Se a gente crescer com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma.”

 

Promessas Veladas e Expectativas – Como lidar com elas?

 download

Pequenas coisas que dizem muito, vejamos:

“Beijos, até amanhã.”

“Estou com saudades, não vejo a hora de te ver.”

“Sabe aquele barzinho? Podíamos ir qualquer dia desses.”

“Nossa, cozinho muito bem, o dia que provar você vai ver.”

“Estava pensando que poderíamos fazer aquela viagem juntos, que acha?”

O que você leu aqui? Para muitas pessoas, essas frases não parecem nada demais. Tão normais e corriqueiras, fazem parte do dia-a-dia das promessas veladas que fazemos e nunca cumprimos. Acontece que quando proferimos as mesmas, não temos ideia de que para quem as ouvem a história não seja bem assim.

Quando acordamos pela manhã o que normalmente fazemos é visualizar mentalmente as coisas que esperamos que aconteça durante o dia. Algumas coisas são bem óbvias que irão acontecer, outras só ficam na nossa vontade mesmo. Principalmente aquelas que dependerem do outro maluco que não tem ideia, talvez, das promessas que fez, até porque não percebe que ao falar a fizeram compulsoriamente.

Fico pensando como é o nosso mundo das expectativas. Vivemos o tempo todo, muitas vezes, em função delas e não nos damos conta de que nossa apatia e tristeza provêm justamente da nossa falta de capacidade para lidar com as frustrações sobre nossas próprias expectativas.

Desculpa minha pretensão, mas para mim a expectativa deveria entrar para lista dos processos psicológicos básicos. É certo que a expectativa está associada aos demais processos psicológicos – sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, motivação, aprendizagem – em especial a percepção – processo na qual nos torna consciente a forma como enxergamos o mundo e as coisas. Mas na prática ela se mostra totalmente distinta em sua função.

Mas qual a função da expectativa? Deixarem-nos loucos, talvez (risos). O dicionário diz que expectativa é a situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento. Resumindo, expectativas são as historinhas (novelinhas) que criamos na nossa cabeça a cerca de coisas que podem ou não acontecer, mas que quase nunca envolvem somente nós mesmos.

A culpa é somente nossa de criarmos expectativas? A culpa nunca fica de fora né?! Basta alguma coisa dar errado que logo precisamos encontrar alguém para botar a culpa. Acontece que neste caso existem muitos culpados ou nenhum. Todos, vítimas de um sistema de funcionamento quanto a relacionamentos incutido em nós, que mal nos damos conta que o fazemos.

Vamos voltar às frases lá em cima?! Quantas vezes você já disse frases como aquelas ou parecidas a alguém, sem muitas vezes não ter o menor interesse de cumpri-las? Talvez, na hora tivesse até o desejo de cumprir, mas sei lá, outras coisas aconteceram e não deu. Mas parece tão pouco né, para que se preocupar.

Mas agora vamos inverter. Quantas vezes você já ouviu alguma daquelas frases ou parecidas de alguém, ficou ansioso, na expectativa de que alguma coisa iria acontecer e nada? É ruim né, eu sei. Mas não parecia tão ruim assim quando fizemos e não cumprimos.

Acontece que tudo depende da pessoa que faz as promessas veladas e do que esperamos dela. De certo, muitas vezes fazemos isso ou outras pessoas fazem isso conosco e nem percebemos, pois não criamos expectativas nenhuma em relação a elas. Por isso, culpo a forma como aprendemos a nos relacionar e que nunca paramos para pensar sobre. Quando fazemos promessas veladas, na maioria das vezes, não percebemos que estamos fazendo e isso então se torna comum fazer. Só vamos nos dar conta disto quando nossos sentimentos estiverem envolvidos.

Certa vez estava conhecendo uma pessoa e ela sempre soltava frases como essas “no dia que conhecer minha mãe, vai ver como ela é gente boa, vocês vão se dar bem!” Pensava eu: Vou conhecer a mãe dele, logo, ele também está gostando de mim. Mas, de repente, paramos de nos falar e essas pequenas promessas nunca se concretizaram.

Na época fiquei sem entender o que tinha acontecido. Pensava: se ele não tinha interesse em continuar, porque dizia aquelas coisas? Mas depois de um tempo comecei a refletir se eu não tinha enxergado coisas onde nada havia. Pensava se eu não tinha me apegado demais a essas promessas veladas e criado expectativas devido ao sentimento que nutria por ele, por isso, precisava de alguma forma confirmar/acreditar que era recíproco o sentimento.

Enfim, tudo isso me serviu para refletir sobre a forma como eu me apegava a tudo isso e comecei a perceber que isso é mais comum do que imaginava. Assim, minha forma de me relacionar com os outros mudou, hoje faço menos promessas, tomo bastante cuidado no que digo para não me comprometer em algo que não posso cumprir. Entretanto, ainda me pego analisando as entrelinhas quando me fazem essas promessas.

E você, já parou para pensar em tudo isso? Anda colocando sentimentos demais nas promessas que recebe ou anda fazendo promessas demais sem perceber? Quanto de expectativas tem colocado em pequenas coisas ou em coisas que não depende de você? Viver sem criar expectativas é impossível, faz parte de nós e precisamos delas para nos impulsionar em muitas coisas. No entanto, é importante sairmos do automático e analisarmos se nossos sentimentos não estão comprometendo nossa capacidade de sermos coerentes com nossas expectativas e promessas.

Maturidade Emocional

tumblr_lm7qa5UfX51qcrsn7o1_500

Nossos comportamentos estão atrelados a nossa maturidade emocional. Maturidade essa que nada tem a ver com a nossa idade, mas sim com nossas experiências e habilidades para lidar com nossas emoções.

Conseguir nossa maturidade emocional não é um processo tão fácil assim. Não basta mentalizarmos o que queremos e as coisas acontecem. É preciso passarmos por um processo de autoconhecimento e construção do nosso verdadeiro eu.

Lya Luft fala um pouco da construção dessa tão sonhada Maturidade Emocional e os resultados desta. Acessem o link para ler o texto na íntegra.

“A maturidade nos permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade e querer com mais doçura.” Lya Luft.

Leia mais: http://www.sabiaspalavras.com/resolucao-de-ano-novo-maturidade-emocional/#ixzz3zChhHuM3

Sobreviventes da Partida – O que a morte nos ensina?

tumblr_llb1wanONx1qk2e0wo1_500

“Dizer adeus a uma pessoa que amamos é tão dolorido, a ponto de nos entregarmos ao sofrimento. Mas será tão menos doída a dor da saudade, se dizemos adeus mantendo esta pessoa quietinha, bem ali no fundinho de nós mesmo. ”

 Ontem assisti pela primeira vez ao filme “A culpa é das estrelas”. Quantas cenas e falas marcantes ele nos proporciona. Mas minha melhor lembrança do filme é o contato. Sim! O contato. Ele me fez entrar em contato com minha própria dor, meus medos e fantasmas. Sobre a morte? Não, sobre a vida! A vida de quem fica depois que alguém que amamos se vai.

A morte é um tema delicado para a maioria das pessoas. Quase ninguém gosta de falar dela. A ciência pouco pesquisa sobre o assunto e a literatura pouco escreve sobre. Talvez pela dificuldade de se falar sobre um tema que mexe com nossas próprias crenças, medos e dores.

Não é como arrumar as malas para uma longa viagem. As malas ficam. A viagem é só de ida para quem vai e também para quem fica. Quem vai nem sempre teve tempo de dizer adeus, quem fica prefere o termo “até breve”, mesmo sem a consciência de quando da sua partida.

Se existe mistério na morte, certamente há mistério maior ainda na sobrevivência daqueles que ficam após aqueles que amam terem partido. Não faz sentido, não tem lógica o mundo continuar ao normal depois que nosso pequeno mundo se partiu.

Às vezes as pessoas me perguntam como superei a morte do meu filho, mas eu respondo: – Nunca superei! A morte de alguém que amamos não é possível de ser superada. A palavra “superar” é utilizada para designar “vencer”, “subjugar”, “dominar” e a morte daquele que amamos não faz jus a nenhuma dessas conjugações.

Quando a notícia chega é um misto de sentimentos que nos invadem. Sucumbimos ao medo, dor, raiva, desespero, angústia… “Esse é o problema da dor… ela precisa ser sentida”. E não tem outro jeito, não existe fórmula mágica que seja capaz de mudar o que estamos sentindo. Não naquele momento.

Já falei em outro post sobre “As fases do luto” de Elisabeth Kübler-Ross, que são: Negação; Raiva/Revolta; Barganha; Depressão e Aceitação. Entender essas fases é importante não só para quem está vivenciando, mas principalmente para quem está próximo de alguém em sofrimento por uma perda. Porque quem está de luto, muito embora saiba da existência de processos psicológicos, não faz outra coisa se não sentir e emergir sua dor através das lágrimas.

Ainda sobre as fases do luto, segundo a autora não é uma ordem em si. As pessoas podem passar por todas as fases ou não, mas necessariamente passará por pelo menos duas destas fases, sendo que a depressão é essencialmente importante para se chegar à aceitação. Por isso, é tão importante o conhecimento de quem está próximo, para que respeite esse momento e deixe a pessoa sentir essa dor e elaborar seu luto.

Apesar da vontade que temos de arrancar com as próprias mãos a dor de dentro da pessoa, isso não é possível. Assim como suas palavras, mesmo de boa intenção na maioria das vezes, também não porá fim à tristeza, entretanto, se não forem bem empregadas poderão causar ainda mais dor. Falo isso por experiência própria, pois ouvi horrores das pessoas quando da morte do meu filho. Algumas, foram tão pesadas que marcaram tanto quanto as boas palavras que recebi naquele momento.

Mas ao contrário do que muitos pensam, a morte pode vencer a fragilidade do corpo, a possibilidade do toque, mas nunca vencerá o amor. O amor rompe com essas barreiras que a morte nos impõe. Se há algum conforto na morte de alguém que amamos, é o de saber que a pessoa está indo pra um lugar onde não há tristeza, maldade e dor.” E ficamos com a certeza de que a dor da saudade será pra sempre nossa companhia, na esperança de que um dia possamos nos reencontrar. Como? Também não sei. Mas preciso crer nisto todos os dias para continuar vivendo.

Se não podemos com a morte, aproveitamos então as lições importantes que ela nos ensina. Uma delas é de que ela chega para todos, sem exceções. Para alguns parece vir mais cedo que para outros, apesar de concordar com essa ilógica matemática, há muito parei de me questionar sobre isso para tentar entender a morte prematura do meu filho. Esses questionamentos não o trazem de volta, mas em contrapartida geram muita angustia e revolta. Por hora, prefiro pensar que vivemos o tempo que precisávamos viver para cumprir nosso papel, nosso destino nesta vida. Pensar assim torna mais leve a caminhada.

Outra lição que podemos tirar da morte é de que nada se leva, mas muito se deixa. É isso! Apesar de não sabermos para onde vamos após a morte, sabemos que nada levamos. Nascemos de mãos vazias e partimos de mãos vazias. Acontece que quem parte deixa. Deixa muito do que foi, muito do que viveu e tudo que representou na vida de quem ficou para continuar sobrevivendo. Quem foi deixa saudades, deixa lembranças e deixa a esperança do reencontro.

Enfim, a vida segue, as coisas se ajeitam, não como antes, mas de um jeito novo, capaz de suprir a sobrevida daquele que ficou. Muitas pessoas descobrem um lado mais humanitário e passam a fazer ações sociais. Outros seguem simplesmente, aparentemente tocando suas vidas como se nada lhes tivessem acontecido, mas só aparentemente. A dor não vai embora, ela fica ali, embora silenciosa e mansa ela permanece guardada em nosso âmago.

Não por opção, mas por instinto, ficamos conformados de que precisamos continuar, mas não sem antes parar para pensar que: Se dessa vida nada se leva, mas a única coisa que temos certeza é de que a morte chega, só não sabemos quando, o que queremos fazer das nossas vidas enquanto a vivemos? Finalizo o texto com uma frase muito impactante do filme que vale a pena ser refletida: “Você precisa escolher as causas pelas quais vai lutar nesse mundo”.

 

 

 

 

O estar só

love_prison-wide

Apesar de toda modernidade, campanhas feministas e bandeiras levantadas em prol da independência da mulher, percebemos um empurrão escancarado das pessoas exigindo que você sempre tenha alguém do lado, ainda que seja o relacionamento mais fajuto do mundo, somente para dizer que está com alguém. Parece que muitas famílias não suportam um almoço de domingo com a pessoa avulsa sentada a mesa, os amigos querem encontro de casais e você, sozinha, não rola. É como se fosse uma obrigação a pessoa ter que namorar, casar, ter filhos e blá, blá, blá.

Eu sou a maior defensora do amor e da construção da família, mas sei respeitar o direito da pessoa em querer ficar só. O que não dá são as pessoas entrarem em relacionamentos por conveniência, somente para agradar a sociedade, a família, os amigos. Casamento, namoro, relacionamento em si, não é uma convenção ou, ao menos, não deveria ser. Ficar sozinho ou relacionar-se é muito mais do que uma escolha e aí eu gostaria de ponderar algumas coisas.

Estar só e solidão são coisas distintas, não se pode confundir as duas coisas. Estar só pode ser algo momentâneo ou não, mas está ligado a uma motivação interna. Ao passo que a solidão é mais uma consequência externa por ausência de relacionamentos que podem muitas vezes levar até sintomas psicológicos graves, como depressão.

Eu compreendo que estar só não é uma questão de não ter companhia ou de não querer/saber se relacionar. Existem momentos da vida que desejamos estar só, precisamos de um tempo para nós mesmos. Quem já passou por isso sabe. Não é algo que se escolhe, está mais próximo de uma necessidade interna, que acontece naturalmente e o tempo vai se encarregando de colocar tudo no seu devido lugar. Então respeite o momento do outro, ele precisa desse tempo para compreender-se e assim poder fazer suas escolhas. O que há de errado nisso? Nada, tirando o fato de que o silêncio do outro e seu isolamento nos incomoda, porque a angústia do vazio é nossa.

Entretanto, eu ainda defendo a tese de que fomos criados para a vida em grupo, seres dependentes que precisam relacionar-se. Penso que depois de um tempo a pessoa será tomada pelo desejo de ter alguém, de forma natural, sem pressões ou cobranças externas. Tudo bem, você pode me dizer “mas eu conheço pessoas que estão sozinhas há muito tempo e são felizes assim, não sentem vontade de ter alguém”, e eu terei que concordar com você. Mas posso lhe assegurar que esses casos são exceções e não estou falando de exceções aqui.

Existe ainda outro lado de estar só, que este sim é baseado em escolha e, neste caso, vejo como algo prejudicial.  Duas amigas conversavam sobre relacionamentos: Uma estava sofrendo, com medo, por já ter sofrido demais – a outra sofria, com medo de um dia vir a sofrer, por nunca ter sofrido.

Não me concebe o fato de alguém optar por ficar sozinha por medo de sofrer ao se envolver com alguém. Calma! Não acho que a pessoa não tenha o direito de querer ficar sozinha, aliás, Deus nos deu o livre arbítrio e quem sou eu para revogá-lo. Minha contestação se baseia no fato de que a escolha por ficar só não pode ser pautada no medo de sofrer, pois embora o relacionar-se seja praticamente sinônimo de sofrimento, ficar sozinho também não é garantia de felicidade.

Quando uma amiga me disse que não se vê namorando, casando, tendo filhos, eu disse: Caô! Neste caso, digo isso com propriedade porque ela nunca se permitiu envolver-se de verdade com alguém. Ao menor sinal de “apaixonamento” ela cai fora. Não cria laços, não se apega, não dá tempo para fincar raízes. Por isso eu digo, o caso dela ficar sozinha é uma escolha baseada no medo. Ela não sabe o que é estar na companhia de alguém, então como pode ela saber que prefere ficar só? Ela justifica seu medo pelas experiências das pessoas que conhecem. “Todos as pessoas que eu conheço e que tiveram ou tem relacionamentos, sofreram ou ainda sofrem”. Ora bolas, se exibir com o chapéu dos outros não dá né. Se for para sofrer que sejam por suas próprias dores, afinal ninguém vai se oferecer para sofrer por você.

Muitas vezes as pessoas não fazem isso intencionalmente, é inconsciente mesmo. Funciona como uma defesa e a pessoa racionaliza demais, evitando contato e rompendo com possibilidades muito antes  delas existirem. Tudo isso porque temem o que tem do outro lado da porta que toca a campainha. Assustada olha pelo olho mágico, se amedronta com aquele louco estranho ali se convidando a entrar e acha melhor não se arriscar. Boba! Mal sabe ela que o amor é ladrão, ele não bate na porta, ele usa chave mestra. Ele entra de mansinho, sorrateiramente e, quando você menos espera, ele já entrou, já se instalou, e aí fica difícil botar pra fora.

Acho que é isso, tudo deve acontecer de forma natural, tanto o relacionar-se quanto o ficar só, pois como dizia Gibran “na verdade, todas as coisas movem-se dentro de vós em constante meio-enlace, as desejadas e as receadas, aquelas que vos repugnam e aquelas que vos atraem, aquelas de que fugis e aquelas que procurais”.