Sobreviventes da Partida – O que a morte nos ensina?

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“Dizer adeus a uma pessoa que amamos é tão dolorido, a ponto de nos entregarmos ao sofrimento. Mas será tão menos doída a dor da saudade, se dizemos adeus mantendo esta pessoa quietinha, bem ali no fundinho de nós mesmo. ”

 Ontem assisti pela primeira vez ao filme “A culpa é das estrelas”. Quantas cenas e falas marcantes ele nos proporciona. Mas minha melhor lembrança do filme é o contato. Sim! O contato. Ele me fez entrar em contato com minha própria dor, meus medos e fantasmas. Sobre a morte? Não, sobre a vida! A vida de quem fica depois que alguém que amamos se vai.

A morte é um tema delicado para a maioria das pessoas. Quase ninguém gosta de falar dela. A ciência pouco pesquisa sobre o assunto e a literatura pouco escreve sobre. Talvez pela dificuldade de se falar sobre um tema que mexe com nossas próprias crenças, medos e dores.

Não é como arrumar as malas para uma longa viagem. As malas ficam. A viagem é só de ida para quem vai e também para quem fica. Quem vai nem sempre teve tempo de dizer adeus, quem fica prefere o termo “até breve”, mesmo sem a consciência de quando da sua partida.

Se existe mistério na morte, certamente há mistério maior ainda na sobrevivência daqueles que ficam após aqueles que amam terem partido. Não faz sentido, não tem lógica o mundo continuar ao normal depois que nosso pequeno mundo se partiu.

Às vezes as pessoas me perguntam como superei a morte do meu filho, mas eu respondo: – Nunca superei! A morte de alguém que amamos não é possível de ser superada. A palavra “superar” é utilizada para designar “vencer”, “subjugar”, “dominar” e a morte daquele que amamos não faz jus a nenhuma dessas conjugações.

Quando a notícia chega é um misto de sentimentos que nos invadem. Sucumbimos ao medo, dor, raiva, desespero, angústia… “Esse é o problema da dor… ela precisa ser sentida”. E não tem outro jeito, não existe fórmula mágica que seja capaz de mudar o que estamos sentindo. Não naquele momento.

Já falei em outro post sobre “As fases do luto” de Elisabeth Kübler-Ross, que são: Negação; Raiva/Revolta; Barganha; Depressão e Aceitação. Entender essas fases é importante não só para quem está vivenciando, mas principalmente para quem está próximo de alguém em sofrimento por uma perda. Porque quem está de luto, muito embora saiba da existência de processos psicológicos, não faz outra coisa se não sentir e emergir sua dor através das lágrimas.

Ainda sobre as fases do luto, segundo a autora não é uma ordem em si. As pessoas podem passar por todas as fases ou não, mas necessariamente passará por pelo menos duas destas fases, sendo que a depressão é essencialmente importante para se chegar à aceitação. Por isso, é tão importante o conhecimento de quem está próximo, para que respeite esse momento e deixe a pessoa sentir essa dor e elaborar seu luto.

Apesar da vontade que temos de arrancar com as próprias mãos a dor de dentro da pessoa, isso não é possível. Assim como suas palavras, mesmo de boa intenção na maioria das vezes, também não porá fim à tristeza, entretanto, se não forem bem empregadas poderão causar ainda mais dor. Falo isso por experiência própria, pois ouvi horrores das pessoas quando da morte do meu filho. Algumas, foram tão pesadas que marcaram tanto quanto as boas palavras que recebi naquele momento.

Mas ao contrário do que muitos pensam, a morte pode vencer a fragilidade do corpo, a possibilidade do toque, mas nunca vencerá o amor. O amor rompe com essas barreiras que a morte nos impõe. Se há algum conforto na morte de alguém que amamos, é o de saber que a pessoa está indo pra um lugar onde não há tristeza, maldade e dor.” E ficamos com a certeza de que a dor da saudade será pra sempre nossa companhia, na esperança de que um dia possamos nos reencontrar. Como? Também não sei. Mas preciso crer nisto todos os dias para continuar vivendo.

Se não podemos com a morte, aproveitamos então as lições importantes que ela nos ensina. Uma delas é de que ela chega para todos, sem exceções. Para alguns parece vir mais cedo que para outros, apesar de concordar com essa ilógica matemática, há muito parei de me questionar sobre isso para tentar entender a morte prematura do meu filho. Esses questionamentos não o trazem de volta, mas em contrapartida geram muita angustia e revolta. Por hora, prefiro pensar que vivemos o tempo que precisávamos viver para cumprir nosso papel, nosso destino nesta vida. Pensar assim torna mais leve a caminhada.

Outra lição que podemos tirar da morte é de que nada se leva, mas muito se deixa. É isso! Apesar de não sabermos para onde vamos após a morte, sabemos que nada levamos. Nascemos de mãos vazias e partimos de mãos vazias. Acontece que quem parte deixa. Deixa muito do que foi, muito do que viveu e tudo que representou na vida de quem ficou para continuar sobrevivendo. Quem foi deixa saudades, deixa lembranças e deixa a esperança do reencontro.

Enfim, a vida segue, as coisas se ajeitam, não como antes, mas de um jeito novo, capaz de suprir a sobrevida daquele que ficou. Muitas pessoas descobrem um lado mais humanitário e passam a fazer ações sociais. Outros seguem simplesmente, aparentemente tocando suas vidas como se nada lhes tivessem acontecido, mas só aparentemente. A dor não vai embora, ela fica ali, embora silenciosa e mansa ela permanece guardada em nosso âmago.

Não por opção, mas por instinto, ficamos conformados de que precisamos continuar, mas não sem antes parar para pensar que: Se dessa vida nada se leva, mas a única coisa que temos certeza é de que a morte chega, só não sabemos quando, o que queremos fazer das nossas vidas enquanto a vivemos? Finalizo o texto com uma frase muito impactante do filme que vale a pena ser refletida: “Você precisa escolher as causas pelas quais vai lutar nesse mundo”.

 

 

 

 

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