Eu possuo o amor, mas não tenho poder sobre ele

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“Quem inventou o amor? Me explica, por favor”. Legião Urbana sabiamente cantou essa música sabendo que, explicar, quer dizer, entender o amor não é tarefa fácil nem nunca será. Costumo brincar que o amor não precisa ser explicado, apenas sentido. Mas quando esse sentimento invade nossas vidas e nos arrebata de forma a nos tirar do eixo, precisamos compreendê-lo para realinhar a nossa órbita.

Quando ouvi pela primeira vez o que Gibran escreveu sobre o amor eu achei muito forte e intenso suas palavras. Mas a simbologia utilizada fora tão marcante para mim que até hoje não consigo encontrar outro conceito que o explique melhor: “quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda… Todavia, se no vosso amor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas… O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui, nem se deixa possuir. Pois o amor basta-se a si mesmo… E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso. O amor não tem outro desejo senão o de atingir a sua plenitude.” ¹

Eu gastaria horas discorrendo ou exemplificando frase por frase que Gibran escreveu, mas acredito que estão tão claras suas palavras que ficaria chato e repetitivo. Entretanto, tem uma parte que gostaria de dar uma ênfase: “E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.” Sem dúvidas isso é o que mais assusta do amor em nós. Não nos assusta o sentimento em si, o que tememos é a falta de controle sobre o amor – sobre a pessoa amada. Aí moram todos os perigos que aceira a loucura e a sanidade, o desespero e a doença.

Quero citar aqui o texto que acredito ser o mais conhecido da bíblia, a qual fala do Amor. Carta de Paulo aos Coríntios [1 Coríntios 13] “… O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…”.²

Apesar de abrir uma ferida de morte ao ler tais palavras, acredito em todas elas. Não quero classificar o amor segundo nenhuma linguagem ou conceitos metafísicos de Arthur Schopenhauer, tão pouco falo de amor de mãe, de filho, de amigo, de amante – Amor é amor e ponto. Sem vírgulas, sem reticências, sem eteceteras. Costumava brigar com um amigo dizendo que amor de mãe é o único amor incondicional, mas hoje acredito que todo amor é incondicional, pois quando as condições começam a interferir, receio que talvez não seja mais amor. Qualquer coisa diferente [ou contrário] do que disse Paulo e Gibran, acredito que esteja mais próximo do egoísmo. O ciúmes, a inveja, o sentimento de posse, nada têm a ver com o amor, são se não, a mais pura demonstração de narcisismo e síndrome do umbigo.

Contudo, acredito que o amor só possa realizar-se em sua plenitude em pessoas inteiras. Acho bonito o termo “cara metade”, mas só vale para metáfora mesmo. Na prática, nenhuma pessoa “pela metade” será capaz de amar o outro ou de fazê-lo feliz. A pessoa, antes de qualquer coisa, precisa estar inteira para conseguir amar. Entretanto, nada impede que ela possa ser amada e, que talvez, o amor possa curá-la e transformá-la em uma pessoa inteira [novamente]. Se encontrar alguém assim pelo caminho, não hesite: Dê amor!

Raul Seixas dizia que “ninguém neste mundo é feliz tendo amado uma vez”. Eu discordo totalmente. Infelizes são as pessoas que nunca amaram nesta vida. Prefiro muito mais a frase “amar é permitir que alguém possa te destruir e confiar que isso não vai acontecer”. Amor é prova de fé, de coragem, a melhor parte de Deus em nós.

E que depois de ter amado não sobre se não a vontade de seguir amando, “porque o amor não sabe aquietar, por isso não pode dormir. Talvez adormecerão os sentidos; mas o amor sempre vela, porque sempre lhe faz sentinela o coração… Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho… A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos” Padre Antonio Vieira.³

Enfim, o amor não tem medidas, não há métricas no coração de quem o sente. Concordo com Engenheiros do Havaí “A medida de amar é amar sem medida, velocidade máxima permitida”. Então, avance os sinais, pisa fundo no acelerador, sinta a emoção de cruzar a linha de chegada, somente tome cuidado para não atropelar corações perdidos pelo caminho. Afinal, tudo que se sabe é que não se pode procrastinar o amor, então quando o amor chegar, viva-o – se entrega – se joga. E se alguém te falar “o amor te leva às alturas, mas não te oferece paraquedas”, você poderá dizer: Tudo bem, eu sempre quis aprender a voar!

 

PS: Por que falo tanto de amor? Ora bolas. Sou uma romântica por natureza, quem me conhece sabe. Apesar de todas as minhas desilusões e dissabores o amor habita em mim e só posso dizer que será sorte daquele que um dia se permitir prová-lo.

 

Links de apoio:

  1. http://www.filosofia.art.br/download/filosofia/o-profeta-de-gibran-khalil-gibran.pdf
  2. https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13
  3. http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/236002

 

 

 

Amor Líquido – Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos

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Bauman trata em seu livro “Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos” o sentimento de insegurança e desejos conflitantes que permeiam as relações atuais. A ambiguidade do desejo de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos. O medo do relacionar-se e se sentirem abandonados como se os seus sentimentos fossem descartáveis e ao mesmo tempo o medo de sentirem permanentemente ligados a uma pessoa e não darem conta de todos os encargos e tensões que a vida a dois se encarrega.

A vida moderna nos trouxe muita individualidade e o amor pode ser um sonho ou pesadelo. Ele compara: “Não se pode comer um bolo e ao mesmo tempo conservá-lo, de forma que não é possível desfrutar dos doces e delicias de um relacionamento evitando simultaneamente seus momentos mais amargos e penosos”.

A era digital trouxe grandes avanços no campo da ciência e muito retrocesso no campo do amor.  Vivendo na era do “mais vale ter do que ser” a virtualização trouxe um descaso com os relacionamentos e valores que damos as coisas e, de certo modo, as pessoas. Tudo é muito rápido e dinâmico. Antigamente quando uma criança ganhava um brinquedo ela era ensinada a cuidar dele. Se quebrava era ensinado a consertar e mantê-lo. Por vezes o mesmo brinquedo passava de uma criança para outra ainda em bom estado de conservação. Hoje as coisas já não acontecem mais assim.

Tudo se tornou facilmente descartável [inclusive os relacionamentos]. As crianças tem aprendido cada vez mais que as ausências dos pais podem ser compensadas com brinquedos novos. E se um brinquedo quebra, pra que consertar? Compra outro novo, mais moderno, “bem melhor”. E assim os jovens vão compreendendo que tudo nesta vida é substituível, até o cachorro de estimação. O carro, o iphone, a TV são produtos novos ainda. “Ah, mas tem uma versão nova no mercado e essa aqui já está bem ultrapassada.”

Sucessivamente essa onda de poder e consumismo vão se tornando a miopia dos relacionamentos. A disputa por vaidade e poder vão aos poucos minando todas as garantias de durabilidade e eterno.

Sendo assim, quem quer embarcar num relacionamento sabendo que ele não vai durar? Ninguém, óbvio. E as pessoas embarcam cada vez mais em relacionamentos superficiais na ânsia de somente exibir que não estão sozinhas, quando na verdade nem sabem o que é de fato viver na companhia de alguém.

E se esse não der certo? Tem outro, e outro, e outros… Entretanto, segundo Bauman, essa facilidade de desengajamento e de rompimento, não reduzem os riscos de sofrimento e aumenta ainda mais os níveis de ansiedade. Bauman compara o amar a morte, por se tratarem ambos de eventos não preditos no tempo. Chegada a hora, ambos vão atacar e não há nada que se possa fazer para impedi-los. A única diferença entre eles é que a morte é uma experiência única e o amor, necessariamente, não precisa ser.

É claro que já ouvimos muitas histórias e estórias de amores que aconteceram muito jovens, a qual o casal seguiu amando até a morte. Entretanto, nem sempre é assim que acontece. Muitas pessoas embarcam num relacionamento acreditando que aquele será para sempre o amor da sua vida, mas no fim, aliás, com o fim, descobrem que ainda terão que mais uma vez enfrentar a angustia do vazio e a tristeza da solidão, antes de experimentarem novamente o sabor do amor e do sentir-se amado. Muitas pessoas passam a vida inteira nesta busca.

Bauman explica este fato ainda atrelado ao que ele chama de “Amor líquido”. Muitas pessoas após se apaixonarem algumas vezes, acreditam que estão ficando mais experientes com os relacionamentos e que assim, no próximo será melhor, “embora não tão emocionante ou excitante quanto o que virá depois”. Ou seja, a busca não para. O fantasma do “sempre tem algo melhor” não deixa de rondar os relacionamentos e no mínimo sinal de estresse já se rompe o que poderia ser um relacionamento duradouro.

No amor há pelo menos dois seres, cada qual uma grande incógnita na equação do outro. Para Bauman é isso que faz o amor parecer capricho do destino – aquele futuro estranho misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, deve ser realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível.

Voltando para nossa sociedade moderna, a qual tudo vem pronto para o consumo rápido e voraz, qual ser foi preparado emocionalmente para lidar com a angústia da conquista? Da espera pela lapidação da relação a dois? Do cultivar o amor? Do suportar tudo aquilo que não gostamos no outro para termos a parte que mais amamos? Quem está preparado para amar os defeitos do outro? Porque ama-se a pessoa por inteiro, do jeito que ela é, ou não amamos.

Aí nos deparamos com a fragilidade das relações atuais: um mundo de pessoas fascinadas e seduzidas pelos “produtos” que prometem felicidade instantânea, capazes de satisfazerem seus desejos sem muita ansiedade, dedicação e esforço. Seria altamente rentável abrir um laboratório e começar a produzir amor em cápsulas. No rótulo viriam algumas descrições básicas necessárias para o consumo e, em caso de pessoas mais ousadas e curiosas elas poderiam até ler a bula. Mas isso seria trabalho demais e aventurar-se nos distúrbios de alta dosagem e reações adversas é coisa para corajosos ou malucos mesmo. As pessoas querem mais é consumir sem saber as consequências. Ainda que tenham que arcar com elas depois.

As pessoas estão cada vez mais convencidas de que um relacionamento exige demais de nós mesmos e não estão dispostas a pagar o preço. Querem entrar num relacionamento com as mesmas garantias que fazem negócios no mercado de ações. Querem prever todos os eventos que possam acontecer e minar o investimento feito. Mas quando o assunto é amor, não há garantias. É um cheque em branco que você assina e não sabe o preço que irá pagar.

E não adianta o número de relacionamentos que você já tenha vivido, quando você estiver amando novamente nada do que você aprendeu anteriormente terá aplicação se você não souber o quão disposto está a abrir mão e se entregar. “Se o amor é remédio, o relacionamento é dor de cabeça. Onde houver dois não haverá certezas. Ser dois significa consentir em indeterminar o futuro.”

Enfim, concluo que nossa era moderna, consumista, moldou os padrões dos novos relacionamentos. Isso significa mais consultórios cheios e corações vazios. Porque o amor continuará a ser uma busca do ser humano e a fragilidade nas relações suas maiores dores. Aprenda a cultivar a paciência e a consciência de que embarcar num relacionamento exige coragem e humildade ou aprenda a lidar com a angústia da solidão.

Quem quiser saber mais sobre o livro ou lê-lo na íntegra, segue o link: http://www.pdflivros.com/2013/11/baixar-amor-liquido-zygmunt-bauman.html

O outro lado da moeda – Quando o sentimento acaba

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Após publicar o post da semana passada, pude perceber certa identificação da maioria das pessoas com a dor e o sofrimento daquele que tem seu coração partido. Mas o fim de um relacionamento sempre envolvem duas partes e é igualmente difícil e doloroso reconhecer quando não dá mais. Nesta situação, a pessoa passa um bom tempo se preparando para dar um basta. Certamente muitas noites mal dormidas, pensamentos desesperadores sobre tentativas frustradas de como fazer isso da melhor maneira. Deixemos de lado aqui qualquer justificativa da motivação para o amor ter acabado e o término do relacionamento seja visto como única opção para a vida desta pessoa.

Bauman cita em seu livro “Amor Líquido” (falarei mais deste livro em outro post) que, diferentemente dos relacionamentos reais, é fácil entrar e sair dos relacionamentos virtuais, pois uma das vantagens do relacionamento eletrônico é que sempre se pode apertar a tecla deletar a qualquer momento. Mas na vida real não é assim que funciona. O botão “deletar” não vem impresso no nosso modus operandis e o processo de término pode também ser sofrido por parte daquele que toma a decisão. Eu disse pode? Não, não pode ser sofrido não. Com certeza é muito doloroso para quem precisa comunicar o outro a frase que ele mesmo certamente não gostaria de ouvir, “não dá mais”.

Acredito que na maioria dos casos seja assim que acontece. A conversa deve iniciar desta forma e todas as justificativas devem vir depois. Talvez a pessoa já tenha elaborado mentalmente todas as possibilidades de perguntas e reações que ela acredita que o outro deverá proferir após o comunicado, tentando se calçar o máximo possível de toda situação angustiante e conflituosa que o momento irá gerar. Mas garanto que nada será suficiente para suprir a sensação de vazio e desespero diante da dor do outro. Claro, estou considerando aqui as situações onde quem termina tem o mínimo de respeito possível pela pessoa que um dia amou. Não estou levando em consideração nenhuma história de traição e falta de maturidade que há em muitos casos de términos de relacionamentos que sempre ouvimos falar por aí.

Digo e afirmo que aquele que termina também sofre porque ele certamente também fez planos de uma vida a dois com aquela pessoa. Mas agora ao olha-la não consegue sentir mais aquele arrepio na espinha ou a imensa vontade de beijar aqueles lábios agora molhados pelas lágrimas que ela mesma provocou. Imagina você se sentir indiferente a alguém que um dia você tanto amou. Imagina você olhar todos os dias para aquela pessoa a qual você compartilhou muito mais do que um filme na noite de sábado, mas o desejo de um futuro digno dos contos de fadas da Disney com direito a “felizes para sempre” e tudo mais e que agora nada disso faz sentido para você. Imagina todas as promessas e juras de amor trocadas com alguém que agora se tornou um estranho na sua vida.

Imaginou? Agora deve ficar mais fácil se colocar no lugar do outro antes de criticá-lo por sua atitude de desistir do relacionamento a dois uma vez que o amor já não pertence mais a esta relação. Não para essa pessoa pelo menos. E a regra para todo relacionamento é clara, o amor deve ser bilateral.

Muitas vezes nem é preciso acabar o amor para que o relacionamento chegue ao fim. Às vezes o relacionamento já está desgastado – seja porque a pessoa está cansada demais, esgotada demais, tristes demais para continuar tentando – seja pela incompatibilidade das duas pessoas que com o tempo mudaram (ou não) e agora pertencem a quebra-cabeças diferentes a qual as peças já não se juntam mais para formar a mesma imagem – mas que somente uma das partes tem a coragem de levantar a bandeira do “será melhor assim”.

Uma vez li que ser feliz sozinho é muito difícil, mas que com a pessoa errada é impossível. Então, eu não sei quando a aquela pessoa se tornou a errada, mas sei que é um direito dela saber disto. Quando o respeito mútuo e a compaixão ainda reinam na relação, o intervalo entre a decisão tomada e a coragem de comunicar o outro parece ser o momento de maior tortura emocional. A pessoa sempre buscará um meio de tornar menos sofrido o ato do desligar-se. Isso porque ela também não está preparada para lidar com a dor do outro e querer que o outro sofra menos e compreenda a situação, neste caso, significa êxito para lidar com suas próprias dificuldades. Parece um pouco egoísta pensar assim, mas é algo natural do ser humano, faz parte do seu instinto de sobrevivência – preparar-se para luta e fuga. E ela foge, porque lidar com o sofrimento alheio nunca é fácil, ainda mais quando se está na condição de algoz da mesma.

E por mais que a pessoa procure as melhores palavras, as melhores formas ou o melhor momento, só posso dizer que ela não ficará livre para se sentir em plena paz quando tudo acabar, a menos que ela diga a verdade. Sim, a verdade sempre será a única forma de conduzir bem o término. A verdade por mais dolorida que seja é a verdade e precisa ser dita. Qualquer mentira que se conte neste momento abrirá espaço para dúvidas sobre o que foi verdadeiro do relacionamento inteiro. Dizer a verdade é um direito de quem fala e de quem escuta. Ainda que ao ouvi-la, naquele momento, pareça ser uma faca a transpassar o peito da pessoa matando todos os seus sonhos e esperanças. Porque dizer a verdade não minimiza a dor imediata, mas pelo menos não tira do outro o direito de cicatrizar suas feridas e acreditar no amor novamente.

A verdade quando bem dita aos poucos ocupará o espaço de “apesar dos pesares, valeu a pena”. Porque aquele que a diz, por mais que ainda carregue o sentimento de culpa pelo sofrimento alheio, poderá respirar leve e dormir descansado de qual desculpa precisará arrumar no outro dia para encobrir as mentiras que contou. A verdade só precisa ser dita uma vez só, a mentira toda vez que a verdade ameaçar ser descoberta.

Enfim, como já disse anteriormente, o término de um relacionamento nunca estará isento de sofrimento, mas que ninguém que passe por isso se esqueça das sábias palavras da nossa eterna Clarice Lispector:

“Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue. Os sentimentos são sempre uma surpresa”.

 

O amor e suas facetas – Coração Partido

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“Não adianta ter o corpo perfeito e uma linda coreografia se o músculo mais importante de todos está partido.”

Assistindo a reportagem sobre a Isadora Marie Williams no Esporte Espetacular, quadro “Mulheres Espetaculares”, fiquei emocionada ao ver a rotina de treinos da patinadora de 18 anos mudar drasticamente após ela começar a sofrer pelo término do namoro e, como ela ganhou a alegria e a leveza para treinar bem novamente após perceber a presença daquele que possui todos os encantos da vida dela “o namorado”. Eles reataram e Isadora voltou a fazer o que ela sabe fazer melhor, patinar, patinar, patinar e ir além dos seus limites.¹

É incrível como o “amor” transforma a vida das pessoas e é triste como a “perda” da pessoa amada consome toda energia, paz, alegria e vontade de viver. É triste, mas natural e necessário ao processo humano de viver.

Trabalhando há um tempo com o tema “as cinco fases do luto” discutido por Elisabeth Kübler Ross no seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, foi impossível não comparar os sofrimentos dos lutos que passamos na vida com o “luto” pelo fim de um relacionamento. Sim, o fim de um relacionamento também é um luto – sem aspas.

As cinco fases do luto são: Negação, Raiva/Revolta, Barganha, Depressão e Aceitação. Segundo Kübler Ross não é uma ordem em si. As pessoas podem passar por todas as fases ou não, mas necessariamente passará por pelo menos duas destas fases, sendo que a depressão é essencialmente importante para se chegar à aceitação.²

Saber isso é de extrema importância para entender e aceitar o sofrimento alheio. Olhar para dor do outro e compreender que essa fase se faz necessária para a superação da “perda”.

Nós pensamos a vida. Imaginamos o futuro. Fazemos planos e sonhamos muitas coisas. Quando conhecemos alguém que nos faz apaixonar, tudo isso fica muito mais enfatizado/intensificado. Passamos a construir mentalmente possibilidades e histórias que podem ou não chegar a se concretizar. Imaginar um futuro longínquo ao lado da pessoa amada é o que nos faz ter garra para lutar contra todas as barreiras que a vida nos impõe. Ganhamos força para superar obstáculos, desafios, limites. É como se a vida ficasse mais leve e algo soprasse em nossos ouvidos diariamente dizendo “vale a pena”.

Nós somos seres dependentes. Não nascemos para vivermos sozinhos. Nossa criação é própria da vida conjunta. Então é natural que vivamos a buscar nossa “cara metade”, aquela capaz de transformar nossas vidas e realizar nossos mais tenros desejos da vida a dois. Poesia a parte, é impossível falar de amor sem falar em sofrimento. Ao menos uma vez na vida, todos, sem exceção, irão passar pelo amargo da despedida, da tristeza do adeus ou da indiferença do outro ao nosso amor.

E quando todo esse sonho se desfaz como um castelo de areia construído na beira do mar, não se tem tempo de preparar o terreno para a grande onda que porá um fim a todas as expectativas de “ser feliz para sempre” ao lado daquela pessoa. E como dói esse momento. Toda energia desprendida, todo investimento feito parecem esvair-se pelo ralo. Há uma confusão de sentimentos, uma mistura de frustração, dor e raiva. Deve-se compreender que neste momento o sofrimento se fará necessário para que toda a dor da perda seja superada.

Julgar o sofrimento alheio pela forma como você lidaria é um erro muito comum de quem está de fora. É preciso compreender que cada um tem uma forma particular para lidar com o fim e isso é influenciado por outros fatores como: os motivos que levaram ao término; as justificativas do outro; o apoio da rede familiar e amigos; a personalidade da pessoa e, sua história de vida (como lida com as frustrações, por exemplo).

Respeitar a dor do outro e o seu tempo é fundamental. Qualquer palavra proferida neste momento pode não surtir o efeito esperado. O ideal mesmo é oferecer colo, ombro e risos – ainda que curtos e rasos. Coincidentemente, li um texto ontem da Martha Medeiros onde ela cita que “tocar na dor do outro exige delicadeza”, e ela tem razão. Lidar com a dor do outro exige de nós mesmo calma, alma e amor. Não se aproxime de alguém em sofrimento se não estiver disposto a oferecer ao menos isto.

Se tudo correr bem, espera-se que os sentimentos de perda, inquietude, baixa autoestima e depressão, vão aos poucos dando espaço a paz, a tranquilidade e a vontade de viver novamente. Com o tempo, os pensamentos entram em ordem e a aceitação pelo fim do relacionamento enfim completa o ciclo, abrindo a vida para novas oportunidades. O olhar começa a enxergar outros olhares e o coração se prepara para a possibilidade de um novo amor, uma nova história e quiçá um novo sofrer.

Por fim meus amigos, não se esqueçam da seguinte verdade: “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente” William Shakespeare.

 

Links de apoio:

1 – http://globotv.globo.com/rede-globo/olimpiadas/v/mulheres-espetaculares-conheca-isadora-williams-unica-patinadora-olimpica-do-brasil/3870976/

2 – http://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_de_K%C3%BCbler-Ross