Quando é egoísmo…

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Após assistir ao filme “Como eu era antes de você” me deparei com enumeras críticas ao personagem principal “Will” interpretado por Sam Claflin de que ele foi egoísta. Espera aí, vamos à história. Will é um cara lindo, rico, com uma vida cheia de aventuras até sofrer um acidente que o deixa tetraplégico. A maioria do público faz criticas ao Will dizendo que ele é sarcástico e não se importa com o amor e sofrimento das outras pessoas pelo fato de ele querer morrer. Mas ao assistir o filme o que pude ver foi uma pessoa presa a uma vida que não é a sua, uma realidade que ele não quer viver e pessoas obrigando-o a ser feliz a qualquer custo. Quem é o egoísta da história mesmo?

Como psicóloga posso dizer que o Will não conseguiu elaborar o luto da sua vida anterior e, desta forma, não deu conta de encarar sua nova vida com uma realidade bem diferente da que tinha antes de ser acometido pelo acidente. Talvez esse seja o ideal de todos nós, elaborar nossos lutos e refazer nossas vidas. Mas será possível isso sempre? E se não for possível, não será mais egoísmo nosso querer do outro aquilo que ele não tem condições de oferecer.

Por se tratar de um filme de eutanásia, me fez lembrar muito de outro filme, “Mar adentro” que trata do mesmo tema e, não por coincidência, o personagem principal também tetraplégico é duramente criticado por seu desejo de morrer. O ponto crucial de ambas as histórias é quando o amor das pessoas próximas ficam de fato maior que seu egoísmo e, então, elas passam a aceitar suas escolhas ainda que não compreendam seus motivos (por falta de empatia talvez) ou acreditem que havia outras possibilidades. Porém, não questionam mais, apenas aceitam e o ajudam nessa travessia entre quase vida e morte – entre prisão e liberdade.

Deixando de lado a discussão sobre o direito ou não de tirar a própria vida, quero enfatizar sobre o egoísmo das pessoas. Há uma confusão muito grande sobre o que é ser egoísta e, cada vez mais, o termo vem sendo utilizado de maneira inadequada para adjetivar pessoas que estão na verdade pensando no bem estar delas em detrimento ao sofrimento das outras pessoas. Mas isso não é egoísmo? Se for olhar pelo significado do dicionário pode-se dizer que sim. Mas, se pensar em nosso bem estar sem pensar no do outro é egoísmo, então todos somos egoístas o tempo todo.

Vejamos: Louisa (personagem de Como eu era antes de você) pensando no amor que sentia por Will, queria que ele vivesse de qualquer forma, mesmo sofrendo, com dor e infeliz por suas lembranças do homem que um dia tinha sido. Will, por sua vez, queria morrer, já tinha morrido muito antes, somente estava preso a um corpo. Sua obsessão em morrer estava acima do amor das outras pessoas e ele sabiam que todos sofriam por sua escolha. Mas lhes pergunto novamente: Quem é o egoísta da história?

Obrigar o outro a viver uma vida infeliz para que nós sejamos felizes é egoísmo. Permitir que o outro seja feliz independente se estamos incluídos no seu plano de felicidade é amor, mas requer maturidade demais entender isso. Obrigar o outro a fazer do nosso jeito é egoísmo sim, mas entender que o outro é um ser a parte, que possui sentimentos, tem direito de escolhas, não faz diminuir nosso sofrimento, porém nos torna mais humanos e nos aproxima do amor verdadeiro e genuíno.

Não podemos confundir egoísmo com amor próprio. Amor próprio é cuidar da nossa essência, valorizar o que nos faz bem e abdicar do que nos machuca/faz mal. Isso é importante e muito saudável. Ao contrário disto, o egoísmo é só pensar em si mesmo, acreditar que todos devem fazer do teu jeito e nunca pensar no outro. Difícil equilibrar tudo isso, não? Como saber quando estamos sendo egoístas ou tendo amor próprio? Simples! Quando nossas escolhas se referirem as nossas vidas e as consequências, apesar de afetar outras pessoas, não é com o intuito de deixá-las mal, mas sim nos livrarmos de algo que nos faz mal.

Enfim, egoísta é o pássaro que voa ou o homem que aprisiona?

 

“Pareço egoísta àqueles que, por um egoísmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo.”

 

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